domingo, 24 de setembro de 2017

Medos de um aposentado


Medos de um aposentado
Marcos Cordeiro de Andrade
Curitiba (PR), 22 de setembro de 2017.

O homem nasce sem medos, mas seu desenvolvimento em sociedade o faz adquirir muitos.

Uns maiores e outros menores, dependendo da escala em que se meça os medos que o aflige.

Os meus me acompanham pela vida afora. Foram singelos na infância, adquirindo maior significado na adolescência e tiveram acelerado crescimento na idade adulta. Mas, nenhuma dessas fases prejudicou significativamente meu desenvolvimento por conta dos meus medos.  Foram medos normais, superados todos.

Foi bom ter vivenciado essa frequência. Porque na idade adulta, calejada na convivência com medos passados, tive fôlego renovado para tocar a vida com responsabilidade. Com a convicção do saber decidir. Do poder procriar e saber criar. De dar amparo e de ser amparado pela confiança reconhecida. De saborear o gosto da honradez. Do ser probo e digno – herança do berço que não admite fraquezas. E que se guarda como um bem maior.

No entanto, em chegando a velhice veio a escalada desordenada desse sentimento que sufoca até mesmo a capacidade de se conviver com ele. Que dirá de superá-lo. Isso se deve aos perigos que ladeiam o caminho a ser percorrido em direção à morte – o medo mor.

Hoje, classificado como um velho viúvo de 78 anos, me fechei em concha para conviver com os medos que a solidão da velhice me trouxe, e que ocupam minha mente no dia a dia modorrento e sem graça, pela imposição de ter medo de tudo que me cerca.

Sou aposentado do Banco do Brasil e sobrevivo financeiramente do que essa condição me supre. Mas, paradoxalmente, essa situação me acrescentou um medo recente aos muitos já carregados. Posto que o Banco aboliu como que por decreto, seu e para si, o fato de eu ser tido como aposentado – título que garbosamente envergo há mais de três décadas. Agora, esse ingrato antigo patrão diz que sou pós-laboral, ao invés de aposentado do Banco do Brasil como sempre me apresentei perante a sociedade – e o mundo. E o medo dessa mudança se traduz na desconfiança de que, também, ele (Banco) irá me usar em temida privatização que as evidências anunciam. É o que se especula.

Mas, talvez não seja bem isto. Quem sabe o Banco queira defender a honra dos aposentados honestos que lhe serviram no passado, tirando-os do saco de gatos criado por ele mesmo, quando permitiu (ou incentivou) que dirigentes de sua escolha se tornassem bandidos, transgressores sem escrúpulos que macularam a classe tida como exemplo de honestidade, justeza de caráter e invejável capacidade de trabalho. Que formavam reserva moral onde eram sacados como se de um celeiro de talentosos obreiros para servir à pátria vertendo sangue, suor e lágrimas no cumprimento das missões destinadas. Isto porque, incorrendo em erro de avaliação, o Banco permitiu que dirigentes nomeados praticassem descaminho no exercício das funções delegadas, frouxamente avaliados na justeza de caráter, grau de honestidade inata e honradez latente.  Mas firmemente aproveitados exatamente pela falta de enquadramento nesse perfil. E é lamentável a constatação de que alguns desses transviados foram iniciados no quadro funcional de carreira depois de admitidos como Menor Aprendiz justamente para aprender a bem servir, no bom sentido. Mas eis que, pelo visto, não aprenderam nada na salutar convivência com os que entraram no Banco por força de concurso rígido inicial, sem apadrinhamentos prejudiciais. Ao contrário, resguardado os bons exemplos da categoria de aprendizes, alguns dos escolhidos pelo Banco atravessaram o limite da honestidade para se juntar aos corruptos que infestam a Nação Brasileira.

Parece até que ser corrupto dá status, e não ser um deles recomenda mal, posto que essa identificação moderna é usada para nomear os que compõem a caravana nunca antes imaginada, composta de exponenciais figuras da República como: presidentes, ministros, governadores, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, dirigentes de estatais e outros Órgãos públicos. Corruptos todos, depois da constatação em Juízo. Todos de largos bolsos, frouxas cuecas e elásticas meias onde cabem muitas notas de dólar vindas de “propinodutos” e outras fontes escusas, próprias para abarrotar contas bancárias abertas em paraísos fiscais.

Por isso tenho medo também. Não de ser honesto. Mas por ser honesto, pois, ao lado de muitos colegas iguais, me tornei exceção à regra, sujeito a esgares lançados por parte dos que não aceitam conviver com a honestidade e a decência. Ainda mais agora, quando querem cortar o cordão umbilical que me une ao Banco, a quem servi com amor e dedicação extrema até a diplomação como aposentado, e não pós-laboral como ora me cospem na cara.

Além de tudo, a esses medos juntaram-se outros ultimamente, me condenando à clausura.

Tenho medo de sair à rua onde a segurança pública me deixa ao sabor de assaltantes. Tenho medo de saidinha de Banco. De frequentar filas. De clonagem de cartão de crédito. Medo de planos de saúde, de adoecer e precisar de hospitais. Medo de concessionárias de serviços públicos. Medo dos impostos saltitantes. Medo de juros e da inadimplência.

Tenho medo dos fictícios reajustes da aposentadoria, dos aumentos de preços dos remédios e dos bens de consumo. Medo dos políticos e da política gerida por eles e para eles. Dos magistrados que se dobram à ganância de ideologias condenáveis. Das leis direcionadas e dos desvios do dinheiro público consentidos. Medo de esbarrar com a miséria a cada esquina que eu cruze, exercendo a impotência que trava a vontade de servir. Dos vícios e dos viciados que perambulam pelas ruas, desprotegidos, abandonados pelo poder público e pelas famílias, provocando o choro dos piedosos condoídos. Medo da pobreza dos arrabaldes, que não posso minorar. E das riquezas ostentadas que fecham o cofre à caridade cristã. Tenho medo de ter esses medos. E de outros que ainda possam vir.

Por quê ser um velho aposentado me dá tanto medo?

Será mesmo que vivencio a melhor idade?

Marcos Cordeiro de Andrade
Aposentado do Banco do Brasil
Matrícula nº 6.808.340-8


Curitiba (PR), 23 de setembro de 2017.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Flechadas perdidas de um anônimo

Flechadas perdidas de um anônimo
Marcos Cordeiro de Andrade - Curitiba (PR), 19 de setembro de 2017.

Já vi esse filme algumas vezes durante minha trajetória no BB.
É sempre assim: cria-se uma associação, oferece-se a ilusão das ações judiciais e, em contrapartida, cobra-se uma mensalidade dos participantes, gerando, dessa forma, um fluxo mensal de receitas para os "donos” dessas associações.
Muitos incautos acreditam. E pagam. Eu tô fora. (Anônimo).

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Caros colegas,

Além de desabafo, por conta dos brios feridos, permito-me responder ao anônimo que abusou do Canal de Comunicação para Newsletters da AAPPREVI, endereçando o comentário acima, gratuito e inoportuno, por conta de mensagem genérica que lançamos na Internet anunciando a Ação do ICMS para nossos sócios.

Caro anônimo, muito embora esse seu comentário tenha sido feito de maneira extemporânea, sem pedido de atenção ou mesmo defendendo uma tese nova, carente de resposta, procuramos cumprir o papel que nos cabe no exercício da função delegada, corrigindo conceitos errôneos de que se vale.

As Associações da espécie, em que está inserida a AAPPREVI, foram criadas com o nobre propósito de prestar assistência aos associados, encurtando a distância existente entre seus anseios por justiça e a dificuldade interposta na consecução dos direitos inerentes.

É bem verdade que quase todas as Ações patrocinadas poderiam ser conduzidas pelo interessado diretamente, sem necessidade da dependência de serviços aportados por terceiros. Pleitos como os que envolvem o INSS, PREVI, CASSI, Receita Federal, etc., podem, perfeitamente, prescindir do acompanhamento das Associações e/ou dos advogados contratados. Todavia, nem sempre o suposto lesado detém os ingredientes necessários para cuidar da salada de preceitos de que é feita uma demanda judicial. Fatos como ignorância das Leis envolvidas são o entrave principal, além de outros não menos impeditivos para dar sequência aos pedidos, tais como: Pouca ou nenhuma familiaridade com a informática; restrições de conhecimentos de linguagem para elaborar petições e imprimir tratamento apropriado para lidar com os Órgãos e Magistrados envolvidos; saúde debilitada, visão deficitária; disponibilidade de tempo para percorrer os corredores dos Tribunais no acompanhamento das suas Ações; pouca ou nenhuma intimidade no trato com os sites de busca -  afora muitos outros óbices interpostos.

Mesmo assim, as Ações patrocinadas por vezes apresentam características permissíveis de condução simplificada, tal a maneira descomplicada que a Internet proporciona através de sites, vídeos, aconselhamentos e assistência à distância, como no caso presente da AÇÃO do ICMS que os avessos ao associativismo têm à mão.
Portanto, se o nobre Colega se insere entre os que prefiram o auto mecanismo de defesa para buscar seus direitos através do Judiciário, a AAPPREVI vem em seu auxílio para, mais uma vez, cumprir o papel que se impõe desempenhar à ordem dos seus dirigentes, não remunerados – porque voluntários –, subordinados aos preceitos estatutários como num dos objetivos descritos no seu Artigo 2º: “representar, dispensada a autorização individual, os interesses coletivos dos associados, judicial ou extrajudicialmente...” Dito isto, desejamos que faça bom proveito da orientação disponível no link abaixo e patrocine sua própria AÇÃO do ICMS. Assim poderá dispensar o concurso das “abomináveis e desonestas associações”, segundo seus conceitos, para não ir de encontro às categóricas afirmações, onde diz: ”Muitos incautos acreditam. E pagam. Eu tô fora. ”

Pena que seu peremptório julgamento tenha atingido ferinamente TODOS os filiados às Associações. Tomara que seus bambus tenham acabado, pois só assim não lançará mais flechas despropositadas.

Atenciosamente,