segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Semelhanças aleatórias



SEMELHANÇAS ALEATÓRIAS

CHUPINS e TICO-TICOS
João Luiz Moura Siqueira

O Tico-tico recolhia no gramado pedaços de palha, capim e gravetos, para construir seu ninho. Tal cenário fez minha memória avivar a figura do aproveitador Chupim, conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no ninho de outras aves (em especial dos tico-ticos), para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los.

O local para onde o tico-tico leva a coleta parece muito bem escolhido: Uma cerca, coberta pela trepadeira “hera”.

Sobre esta, descem, como espessas cortinas, ramos da planta “amor agarradinho”, com flores pequenas, numerosas e duradouras, reunidas em grandes e belos cachos.

Lugar perfeito para esconder um ninho, ainda mais porque o construtor entra por uma espécie de túnel até o ponto de nidificação. Dificilmente um chupim vai achar este futuro berço, pensei.

Mas, horas depois, vi um chupim em uma alta folha de coqueiro, a observar o tico-tico, que persistia em sua lida.

Certamente o pássaro preto estava entrevendo um local para uma futura deposição de ovos de sua fêmea.

É a lei da Natureza, resignei-me. O chupim adaptou-se, pela evolução, a botar ovos parecidos com os do tico-tico, e dentro do ninho deste; a fêmea do tico-tico vai chocando os ovos de chupim junto com os dela; os filhotes de chupim nascem primeiro, e logo dominam o local: chegam a jogar fora os ovos ou os filhotes de tico-tico. Os chupins estão “programados” para assim agir. Por isso, Chupim acabou virando sinônimo de Aproveitador.

Chupins humanos; Aproveitadores, Oportunistas.

Já foi costume adjetivar com a alcunha de chupim o marido de professora, que vivia à custa da mulher. Por extensão, diz-se da pessoa que goza a vida sem fazer força, vivendo de enganar, ludibriar, obter vantagens inescrupulosas em determinadas circunstâncias, em prejuízo de outras pessoas, quer em situações de sucesso ou de infortúnio destas, ou se aproveitando do esforço alheio.

São indivíduos sem ética que se deixam levar pela cobiça, por aversão ao trabalho honesto ou por baixos instintos e cometem atos reprováveis, com prejuízos e danos ao próximo, valendo-se de situação favorável, tentadora. Sabem tirar proveito das circunstâncias em dado momento, em benefício de seus interesses.

Aproveitam do sucesso ou do fracasso de outros para que de alguma forma possam obter vantagem sobre tais situações; sua meta sempre será se sair bem, e não importa se é em momentos difíceis, de dor, ou são momentos alegres, o que ele quer de uma pessoa é apenas um espaço onde não precise de esforço algum para obter algo.

O oportunista age sozinho, a observar atentamente as suas futuras vítimas, que nunca desconfiam de nada, entregando-se inocentemente ao aproveitador, pela muita esperteza e inteligência deste, que se aproveita da bondade, da boa vontade e da simplicidade dos outros, para atingir os seus fins inescrupulosos e lucrativos.

O aproveitador é “bom de papo”, dá-se bem com todos, procura saber de tudo o que ocorre na sua região. Ao saber que alguém está com dificuldades financeiras, mas possui bens de valor, lá vai ele a aproveitar a oportunidade de obter alguma vantagem na aquisição de tais bens, fingindo estar procurando ajudar, pois “não é para si próprio, mas sabe de alguém interessado, que só dispõe de tal quantia…” Ele, o “benfeitor”, pode apenas aceitar uma “comissãozinha”.

Depois, dá um “trato” no bem (veículo, máquina, equipamento, imóvel, etc.), com as eventuais “gambiarras” e o revende oportunamente, obtendo um bom e fácil lucro.

Enfim, o oportunista é falso, inconsequente, desleal, traidor, e espera sempre sua vítima com paciência, porém sempre observando suas fraquezas. Ele tem boa aparência, é encantador, bom papo, possui esperteza e inteligência e consegue manipular suas vítimas facilmente. Muito esperto, sente cheiro de oportunidades, se faz de amigo, está pronto a causar danos que dificilmente uma pessoa conseguirá superar. Nunca se arrepende, pois esse tipo não sente remorsos.

Mas, como “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe” a fama do espertalhão vai se espalhando e as pessoas se afastando, levando o ardiloso à solidão e ao ostracismo.

Por: João Luiz Moura Siqueira. Atualmente é produtor rural (fruticultor) há mais de 20 anos, em Porto Feliz (SP).

Abaixo mais informações sobre o colunista.

João Luiz Moura Siqueira

Bancário, aposentado com 28 anos de experiência de Banespa; em agências passou pelas várias funções, de escriturário a gerente; na Administração Geral do Banco, em São Paulo, exerceu os cargos de Inspetor, Auditor, e Gerente de Auditoria Interna.
E-mail:  mourasiqueira1@hotmail.com 
Extraído da Revista VIU - http://www.revistaviu.com.br/revista

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