sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Maria Antonieta à brasileira



Marcos Cordeiro de Andrade

Caros Colegas.

Cada povo tem a Maria Antonieta que merece. A da França, por conta de arbitrariedades praticadas, foi guilhotinada há exatos 221 anos (16/10/1793). Lá, em época de vacas magras, a rainha recomendou equivocadamente aos súditos que comessem brioche para suprir a falta de pão. Enquanto que aqui um guru da primeira mandatária soprou-lhe aos ouvidos que mandasse o povo comer ovo, ao lhe ser anunciado haver escassez de carne no mercado.

Sorte deles que nossas guilhotinas somente se prestam para cortar papel e outros apetrechos que não pescoços humanos. Até porque, nestes atribulados dias nem mesmo se as usa para cortar dedos, o que, aliás, se fazia antes até deliberadamente, e, na ausência delas, por meio de tornos mecânicos obsoletos sem proteção adequada aos operários diligentes que com eles lidavam – isso aos que quisessem simular acidentes para os “incapacitar” para o trabalho – o que raramente ocorria. Hoje essa prática está manjada e não há recorrência, pois quem assim agia condenava o povo a sustentá-lo para o resto da vida, deixando-lhe tempo para tramar absurdos inconfessáveis contra esse mesmo povo.

Mas, voltando à tirada que escapa à compreensão dos “gourmets” tupiniquins, considera-se que, pela segunda vez na história uma pessoa anônima se faz famosa por um ato de suprema inteligência revelado ao mundo, mostrando como lidar com o ovo de maneira diferente. Tanto é que, presume-se, a cozinha do planalto, reconhecidamente como a que mais sofre com os efeitos da elevação repentina da inflação, já se desdobra no preparo e divulgação de cardápios especiais supridores da ausência da carne. Aguarda-se edição de medida provisória anunciando a boa nova. E originais pratos serão anunciados como iguarias à disposição do público alvo, depois de devidamente testados e aprovados pela dona dessa magna cozinha como substitutivos para a carne sumida. As opções são vastas: Ensopadinho de ovo com chuchu; ovo à Chateaubriand; ovo a cavalo (ovo sobre ovo); picadinho de ovo; espetinho de ovo; churrasco de ovo com asa de frango; macarronada ao molho de ovo moído; ovo assado ao forno; ovo de panela; hambúrguer de ovo; estrogonofe de ovo... E por ai vai.

Paralelamente, serão adotadas medidas de proteção às vacas (do campo) para garantir renovação dos rebanhos. Proibir o uso de sapatos de couro é uma delas, sendo permitido andar de sandálias até mesmo no Congresso. Outra recomendação visa incentivar o consumo de margarina, deixando de lado o “outro” produto de nome não recomendável por lembrar personagem atuante na atual crise. Por outro lado, as galinhas (dos aviários) estarão protegidas por força tarefa específica para garantir o suprimento de ovos.

Seguindo a linha de raciocínio simplista do planalto, fica comprovado ser desnecessário lutar por qualquer tipo de mudança, posto que, reconhecidamente, estejamos bem servidos pelas cabeças pensantes que nos regem - ao menos em relação aos cuidados com a alimentação de povo tratado como de quarto ou quinto mundo. No mais, resta-nos esperar que o suprassumo da inteligência aboletado no palácio do planalto revele outros “ovos de Colombo”. Não nos surpreendamos se seguirem a mesma fórmula mágica para resolver os problemas básicos da Nação. Como, por exemplo, eliminar o déficit da previdência mandando adicionar o vírus ebola nas vacinas obrigatórias destinadas aos velhinhos trambiqueiros do País. E se determine que os pais passem a alfabetizar os filhos em suas casas até o vestibular, transformando escolas públicas em abrigo de quarentena para aprimorar corruptos (entre uma atuação e outra), levando o governo a economizar com o não pagamento dos salários de professores da base escolar – hoje regiamente remunerados à custa do Estado, que carece de recursos já que o povo paga pouquíssimo em questão de impostos. Neste particular, comenta-se que o erário está tão pobre que nem mais consegue disponibilizar recursos aos especialistas de colarinho branco para o roubo sistemático, prática corriqueira que azeita a máquina da administração pública para deleite dos eleitores que os mantêm no poder, a despeito da inveja dos que neles não querem votar e que resmungam à toa.

Entende-se como possível que se lacrem as rodovias existentes (ou se as bombardeiem para aumentar os buracos existentes), eliminando o predatório trânsito de veículos. Essa medida resolveria dois problemas recorrentes. Fincaria o povo nos próprios terreiros gastando ali o rico dinheirinho, e as “riquezas” do país voltariam a ser transportadas por caravelas ao longo da costa (inutilizando navios movidos a combustível fóssil) e em lombo de mulas e burros (de quatro patas) pelo interior afora.  Assim se economizaria petróleo no uso interno, destinando-o à exportação para trazer divisas aos cofres públicos que têm muito a quem “suprir”.  E propiciaria justificativa à implantação de centenas de superfaturadas refinarias nos mais recônditos lugares (longe da fiscalização pública), fontes seguras de utilíssimos propinodutos já testados e aprovados.

Para a área de segurança poderiam acabar com as polícias (pacificadoras ou não), deixando ao cidadão comum o feito de encarar os bandidos à tapa, já que suas armas foram confiscadas deixando a prerrogativa do uso indiscriminado aos indefesos meliantes. Isso redundaria em economia com a extinção dos altíssimos salários pagos aos nossos defensores do dia a dia e devolveria os policiais à condição de cidadão comum para produzir alimentos básicos nos terrenos improdutivos, como parques e jardins e arenas da copa – porque as áreas cultiváveis do campo já têm como donos os movimentos próprios custeados pelo Estado. Nesse contexto somente não seriam afetadas as Forças Armadas, porque ai o buraco é mais embaixo. Vai que não entendessem as medidas de contenção de despesas em pauta e resolvessem tomar providências em benefício do povão... Afinal, paciência tem limites.

Já a questão da saúde pública seria tratada também de modo sui generis. Bastaria um decreto proibindo o povo de recorrer aos postos de saúde e hospitais públicos, que seriam fechados em definitivo sem fazer falta já que pouco ou nenhum atendimento prestam mesmo.  Em contrapartida, o Governo estimularia a rede particular a cobrar pelo atendimento ao seu bel prazer, forçando o Zé povinho a retornar ao tempo das rezas e garrafadas para curar seus males, levando à falência os fabricantes de produtos de marca deixando à disposição da ralé os indefectíveis rotulados com a Letra “G”.

Tudo colocado em prática dessa maneira adviria mais uma vantagem para todos, pois tornaria desnecessário o uso do voto nesse segundo turno. E o domingo da eleição seria destinado ao lazer com a família e os amigos. Quem sabe desfrutando de um saboroso churrasco de ovo à beira da piscina seca? Ninguém seria forçado a buscar mudanças utópicas, desnecessárias e inconvenientes, já que tudo está uma maravilha. E em time que tá ganhando não se mexe, não é mesmo?

Portanto, mudar pra quê? Pra quê mudar se dentro e fora das cadeias temos gente tarimbada, testada e carimbada, a cuidar dos nossos problemas reais?

Ou seriam fictícios?

Veremos...

Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR), 16 de outubro de 2014. www.previplano1.com.br

7 comentários:

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


RAPOSO escreveu:

É admirável como certas pessoas têm o dom de escrever bem e bonito. O colega Marcos é uma dessas.
A partir de um mote interessante, conseguem elaborar belos e agradáveis textos, misturando fatos reais com ficção, tudo devidamente temperado com bastante sofismas e falácias, para ficar bem ao gosto dos seus...
E o prato está pronto para ser servido conforme os interesses de quem ofereceu os ingredientes inspiradores da iguaria.
Qualquer pessoa minimamente alfabetizada em política, que não olhe apenas para os seus umbigos - próprio ou de uma classe ou de um grupo - sabe que quase tudo o que se tem discutido nestas eleições - propostas, promessas, realizações, escândalos, acusações etc... - é secundário.
É evidente que a disputa real que se desenrola é entre dois modelos de Brasil, duas realidades distintas. Cheias de problemas, imperfeições e maracutaias, mas bastante distintas para quem olha além dos seus umbigos.
A luta real que se trava é entre o trabalhismo e o capitalismo, prioritariamente o financeiro, este através de sua moderna máscara neoliberal.
O que está em jogo é a priorização e valorização das políticas sociais versus a priorização do mercado e do rentismo.
É a continuação do fortalecimento do Estado e a afirmação da sua soberania contra o seu desmanche rumo ao Estado mínimo e a volta da subserviência aos interesses internacionais. É o Brasil de hoje, diminuindo as desigualdades, com aumentos da massa salarial e desemprego recorde, que tem futuro, versus o Brasil de ontem, do atraso, do arrocho, do desemplego, do favorecimento das elites.
O resto que se discute e se debate é tudo periférico, conversas para boi dormir e iludir quem estuda pela Veja e pela Globo.
É muito estranho ver alguém do BB, adulto e alfabetizado, que tenha vivido os anos fhc - e sentido o que eles representaram para as instituições públicas, seus servidores e para os trabalhadores em geral, sendo a favor do retorno ao poder desse grupo político e de sua nefasta política econômica.
Por que gente assim está trabalhando - explícita ou disfarçadamente - pelo retrocesso, pelo retorno ao poder desses vendilhões da pátria? As possibilidades são poucas... Talvez seja por razões ideológicas ( o que perfeitamente aceitável, não fora a prática política dissimulada, com mentiras e disfarces). Podem também dizer que estão defendendo interesses próprios ou de uma classe ou de um grupo. Perfeito. Só que de trabalhadores e aposentados, a desculpa não cola, bastando-se comparar o que ocorreu nos governos dos dois modelos em disputa.

Continua na Parte II

Marcos Cordeiro de Andrade disse...



Parte II

Mas devemos reconhecer que, certamente, algumas classes ou grupos podem ter tido alguma perda real em termos sociais. Com certeza, perdas sociais relativas houve e os mais abastados não gostaram disso. Aceitável é que esperneiem... Menos mal do que no passado quando patrocinaram golpes e derrubaram governos trabalhistas. Se bem que as semehanças entre os momentos atual e alguns de pré golpes são inúmeras... mas...
A pena do colega, brilhante repito, na penúltima indagação, escreve, com compatível ironia: "Portanto, mudar, para quê?"
Bem, se o que se nos aprenta NA REALIDADE é a disputa entre o modelo de hoje (de 2003 para cá) versus o modelo anterior (anos nefastos do fhc, cia e CIA), ela está declarando a sua opção pela volta do atraso (*).
O que lhe é legítimo e lhe é de direito. Se é decepcionante e abala a sua credibilidade para alguém que o admirava, como eu, não tem a menor importância.
(*) (ainda que alguns façam malabarismos e ilusionismos diversos, e apelem para algumas das diversas questões periféricas e esotéricas etc..., não há como escapar da REALIDADE do que está em luta: a continuação do modelo atual ou a volta ao anterior. Desenhando: no cenário que está posto, mudar é voltar ao passado, simbolicamente aos anos fhc.)
Raposo
obs1. sobre o episódio do ovo (delícia!!!), existe o que as penas leves escreveram e existe o que a Presidenta disse de FATO sobre o episódio, (abaixo). Ficar com o que foi dito de fato por ela ou preferir as versões que afaguem a ideologia ou sirvam a interesses específicos, ainda que ficcionais e mentirosas, é opção de cada um.
obs2. é interessante como o mundo dá voltas e as pessoas trocam de posições no joguinho da vida; ao ler o texto do colega, imediatamente me veio à mente um outro, teatralizado em vídeo por uma pobre colega de posições políticas volúveis, em que o presente autor era uma das vítimas, ao lado de outras, destinatários desta mesma mensagem dele; incrível a semelhança das penas ferinas e levianas, em ambos os casos, onde o respeito pelas pessoas e sua dignidade passou longe. Lido e interpretado por aquela lamentável figura, apostar-se-ia que o autor dos dois textos foi o mesmo. Impressionante e lamentável.
obs3. como eu não confiaria em cabeças unilaterais como as dos rodrigos constantinos da vida para a defesa de meus interesses, estarei me utilizando da via oportuna para me desligar da AAPPREVI. À qual me associei apenas por apoio, para dar força, pois nunca me utilizei dos seus serviço.
obs4. como as pessoas que mais criticam os políticos são as que mais agem como eles, não vou mais reiterar que me poupem de receber propaganda política.

Continua na Parte III

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


Parte III - Final

14 DE OUTUBRO DE 2014 ÀS 05:39
BRASÍLIA (Reuters) - ... A presidente Dilma Rousseff classificou como "infeliz" a sugestão do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland para que os consumidores consumam frango e ovos ao invés de carne, como forma de evitar a alta dos preços da carne bovina.
"Acho errada a afirmação do secretário de política econômica, acho infeliz. Mais do que errada, acho infeliz", disse a presidente a jornalistas nesta segunda-feira no Palácio da Alvorada.
Apesar de criticar a declaração, Dilma minimizou os efeitos dela na campanha, já que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, explorou a afirmação de Holland no programa eleitoral obrigatório.
"Eu acho que foi uma frase infeliz, só isso. Uma frase extremamente infeliz", respondeu.
Dilma afirmou que "jamais" daria esse conselho. "Porque eu acho que as pessoas têm direito de comer carne, de comer frango e comer ovo", argumentou.
"Uma das grandes vitórias do meu governo e do governo Lula foi tirar o Brasil do mapa da fome e colocar a carne, o frango e o ovo e as proteínas em geral na mesa do brasileiro", acrescentou
Assinado: RAPOSO.

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Observações do Blog:

O lamentável em toda essa apologia gratuita e particular foi ter o Colega RAPOSO envolvido a AAPPREVI no desfecho do seu texto, pois ela nada tem a ver com o que foi escrito, contra ou a favor dos sistemas enaltecidos e denunciados pelo seu comentário. Vale lembrar que este Blog em que escrevo é INDEPENDENTE e os conceitos registrados não podem ser confundidos com a posição de Entidades outras, posto que este espaço é mantido e monitorado por mim como fundador e mantenedor, totalmente às minhas expensas e sem vínculo com quem quer que seja. Portanto, não devo subserviência a pessoas ou coisas. E sou livre para pensar e escrever.
Em que pese o respeito que lhe tenho, nada justifica aproveitar-se de situações aleatórias para nos privar do seu convívio e imensurável apoio dado até este ponto do caminho. Até porque ninguém precisa de desculpas ou alegações outras para se desfiliar da Associação que escolheu. Na AAPPREVI o DIREITO ao afastamento a qualquer tempo está assegurado no Estatuto:

“Art. 9º - § 2º - Todo associado pode, a qualquer tempo,
pedir, voluntariamente, demissão da Associação mediante notificação, por
escrito, com antecedência mínima de 30 dias.”

Atenciosamente,
Marcos Cordeiro de Andrade.

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


De Milton Bertoco:

Caríssimos.

Tenho respeito por todos, em especial pelo Marcos Cordeiro, pelas lutas em nosso favor - sou e continuarei associado à AAPPREVI.

Entretanto, em termos de momento atual da política brasileira, concordo com o Raposo: o antagonismo é mesmo entre dois modelos. E, com erros e acertos de ambos, a minha opção é pelo modelo que prioriza a visão social do estado e sua valorização como fator amortecedor de desigualdades. Na verdade, minha opção é pelos mais pobres, pelos mais sofridos, pelos mais humildes.

As brigas de ocasião, as acusações eleitoreiras, as promessas de campanha, tudo isso faz parte da nossa tradição política e considero tudo passageiro. Penso que o que vai ficar, depois, é a opção do eleito por um desses modelos.

Apesar da minha convicção, sei que outros colegas pensam de modo diverso - respeito-os e não me movo para tentar convencer ninguém.

Abraços a todos.

Milton

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


De Paulo Roberto Ventura:

Leiam essa matéria muito bem escrita pelo nosso colega Marcos Cordeiro. Vale a pena repassar para todos de suas listas.


A HORA É AGORA!!! Ou fazemos nossa parte, dando chance a um novo candidato, ou repetiremos por mais quatro, eu disse QUATRO anos de um governo pusilânime, omisso, facilitador do crime organizado, isto é: FANTOCHE!!!


NÃO DEIXEM DE LER.

Alan disse...

Vamos todos cobrar, no site dos presidensiáveis, qual a posição deles sobre:
1 - O absurdo do FATOR PREVIDENCIÁRIO, e se fosse extinto, geraria mais empregos e a figura da desaposentação diminuiria muito.
2 - Recuperação das aposentadorias acima de 1 SM, ao mesmo valor, em SM, que o cidação contribuiu.
3 - A desaposentação

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


COMUNICADO da ANABB

Prezado(a) Associado(a),
Comunicamos que ANABB realiza nesta segunda-feira (20/10), entrevistas exclusivas com os economistas Armínio Fraga, do presidenciável Aécio Neves (PSDB), e Alessandro Teixeira, de Dilma Rousseff (PT). A transmissão acontecerá ao vivo pelo site ANABB e para os associados que estiverem em horário de trabalho, as gravações poderão ser acompanhas de dentro das agências.
Na pauta está o esclarecimento sobre as propostas e compromissos que os candidatos assumem e o seu impacto nas instituições bancárias públicas, em especial o BANCO DO BRASIL, que ocupa um papel importante na economia brasileira.
As entrevistas acontecem, no auditório do Edifício Sede da Associação. Armínio Fraga será entrevistado por videoconferência, a partir das 17h, e Alessandro Teixeira estará presente na ANABB a partir das 20h. Estarão presentes ainda os dirigentes da ANABB e convidados de outras entidades representativas dos funcionários do BB. O moderador da entrevista será o presidente da Associação, Sergio Riede.