quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

VELHICE AO DESAMPARO



VELHICE AO DESAMPARO
Marcos Cordeiro de Andrade

Curitiba (PR), 12 de dezembro de 2017.

Desde a mais tenra idade, o ser humano aprende a confiar em quem lhe provê o sustento. Em qualquer sentido que o destino lhe reserve o aprendizado do conhecimento, isso marca o processo evolutivo da espécie.

Ainda bebês, recém-chegados ao mundo, somos protegidos por pais amorosos, acalentados e repousados em seus braços para usufruir da concha protetora que a responsabilidade voluntária herdada da Criação nos oferece. A partir de então, cumprimos etapas da vida em busca da autossuficiência que não chega nunca. Mas sempre confiando em que bons propósitos sejam regra entre os que se propõem a servir de guia nessas jornadas. Na primeira infância, e depois, na juventude e adolescência, o desprendimento vindo do berço encontra nos orientadores educacionais elementos propícios ao aprimoramento das virtudes, recompensando nossa entrega.

Depois, na ponta extrema da idade adulta, fechando o ciclo no fim da vida, voltamos à estaca zero do processo tornando à dependência do sustento pelas mãos de necessários protetores. E aí, vulneráveis como os recém-nascidos, precisamos mais que nunca confiar sem freios e sem opções. Não sendo assim, o caminho percorrido se perde da finalidade.

Infelizmente, a esta altura pecamos por erro de avaliação. Nesse estágio do final da existência, em que deveríamos gozar da segurança por que pagamos a órgãos previdenciários, tardiamente descobrimos que caímos em mãos erradas. A Previdência Pública, dita oficial, é gerida politicamente em direção a interesses eleitoreiros. E a Previdência Privada trilha por desvios inconfessos, acarretando incompatibilidade de propósitos na execução do mandato que lhe outorgamos, pago em forma de poupança garantidora da última e irreversível idade. Também ela, a exemplo da Previdência Social do Governo, a quem igualmente pagamos anos a fio, se mostra incapaz de corresponder à confiança depositada – e irremediavelmente necessária para prover nossas necessidades básicas como na fase de recém-nascidos. Essa desconfiança, que nunca deveria ser mencionada, porquanto improvável, existe a propósito da gestão temerária em Entidades Previdenciárias. A Pública, é embalada por interesses políticos dos gestores manipulados por um poder paralelo. À sua semelhança, a Previdência Privada tem sido entregue a prepostos políticos, nem sempre bem preparados que dirá bem-intencionados. Há casos em que, por vezes, são coniventes e beneficiários dos resultados de má condução instalada. Bem como há os que se aproveitam do cargo usufruindo de aposentadorias dezenas de vezes maiores que as de desvalidos que “defendem” - e sem ter contribuído para tal na proporção exigida.

Enfim, entramos na fase derradeira com a mesma carência de cuidados do primeiro estágio e, igualmente, com total entrega nas mãos de quem foi designado para cuidar do nosso sustento. No princípio, a ordem natural das coisas nos destinou cuidadores honestos, despretensiosamente responsáveis sob orientação Divina. No entanto, hoje, os que pretensamente nos amparam o fazem como se ao reflexo do espelho. Tudo tem que reverter em benefício deles e dos seus propósitos e não em função do que nos é devido, lamentavelmente. Agem impunemente sem medo de castigos. E nem cadeia temem mais, mesmo conhecendo alguns “parceiros” penando atrás das grades.

Mas há como reverter o sombrio quadro. A solução é simples, e existe ao alcance dos que regem os destinos da previdência social no Brasil. Basta tirar esse poder das erradas mãos em que se encontram e transferir para os gestores certos que o milagre se dará. Então não se falará mais em inviabilidades, ou em rombos e déficits orçamentários. As lágrimas hoje vertidas pelo descaso implantado secarão e os sulcos de faces enrugadas pelo tempo serão aplainados pela força de sorrisos de gratidão. Não mais haverá desvios de verbas e de condutas. A seriedade será o diapasão a afinar a orquestra. Por isso, e por caridade, apelo aos poderosos de causa própria para que entreguem as Previdências para os antigos aposentados e pensionistas cuidarem com os conhecimentos adquiridos na escola da vida. Eles, sim, entendem do riscado. Eles venceram todos os obstáculos até essa linha de chegada e sabem onde o calo aperta no calçado que lhes é dado usar. Impossível esperar que um jovem carreirista ocupe o lugar de condutor dos destinos de aposentados se ele jamais foi um deles. Nem será. Porque sua visão enxerga algo maior na sua ótica tacanha. Coisa mais rentável e menos sacrificante é o que mira. Mais condizente com o aprendizado adquirido na moderna escola que o formou, como a ditar que ser aposentado não é futuro para ninguém. O fundamental, segundo esses princípios, é se voltar para cuidar de encher o pé-de-meia. Nem que seja à custa dos aposentados que estrebucham sob seus pés.

Em conclusão, sem nenhuma alquimia ilusionista façam o milagre da transformação. Entreguem a previdência para ser gerida por quem entende do assunto mais que ninguém. Mais que todos os novatos diplomados existentes no mercado de trabalho do Brasil. Convoquem para o lugar aposentados e pensionistas desempregados. Há milhões deles disponíveis. E aptos para gerir nossos destinos como verdadeiros mestres no ofício. Senão, a perdurar o presente estado de coisas não teremos futuro condizente. E nenhum outro futuro também. Enquanto a raposa tomar conta do galinheiro todos estaremos à mercê da gulodice covardemente desonesta – programada e executada à sombra de politicagens financeiras.


Marcos Cordeiro de Andrade
78 anos


Aposentado pelo INSS e pela PREVI


6 comentários:

Marcos Cordeiro de Andrade disse...




Prezado Sr. Marcos dizer o quê?

Somente que o senhor retratou a mais pura e real verdade! Triste, muito triste! Mas não se amargure desse jeito, por favor!



Atenciosamente,



Eliane Lima
Advogada - Lima & Silva Advogados

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


Bravo, bravo, bravo, valente lutador colega Marcos Cordeiro de Andrade.
Marcos Gilberto Homem de Mello, 87 anos, igualmente aposentado pelo INSS e PREVI,

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


Caro Marcos,
Parabéns pelo seu belo texto.
Aproveito para desejar-lhe, a todos os seus distintos familiares, um Feliz Natal
e um Ano Novo com saúde, paz e alegria.
Abraços,
Norton

rafa disse...

Caro Marcos, a quem aprendi a admirar a partir de indicação do amigo Ravacci.

Seu texto faz lembrar do Livro de Jó.

Na velhice, Deus "autoriza" o demônio a tirar-lhe tudo o que possuia ...

Mas não blasfemou contra Deus.

Resultado: RECEBEU muito mais do que havia perdido.

A ESPERANÇA é a grande ( uma das: Fé, Esperança e Caridade ) mola que impulsiona as pessoas de fé para a frente ...

Apesar de tudo de ruim que parece nos cercar ...

Vemos os acontecimentos agora como num espelho embaçado ...

Logo veremos a pura verdade.

É o que espero, MUITO.

Grande abraço e não desanime.

Para Deus NADA é impossível.

Rafael

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


Marcio Izidorio 16 de dezembro de 2017 11:37
Marcos Cordeiro de Andrade, parabéns pela colocação adequada do seu texto. Reflete bem a nossa preocupação com o nosso futuro...!!! Infelizmente essa é a nossa realidade... estamos sendo pastoreados por lobos famintos e inescrupulosos...!!!

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


Regina Silva 15 de dezembro de 2017 17:42
Parabéns Marco Cordeiro de Andrade, pelo texto muito bem escrito. Você faz uma leitura humanizada das aflições dos aposentados. Você faz considerações, por um ângulo bem diferente do comum. Mas, se me permite, tenho duas críticas: um texto mais conciso será lido por um número maior de pessoas e este deve ser lido por todos! Os que o lerem se beneficiarão de seus pensamentos inspirados! Em segundo lugar, acho que não é pecado ser jovem, assim como não é virtude ter passado dos 60 ou 70 anos de idade. O pecado é a desonestidade! Provam isto, os covardes de cabeças brancas, que estão nos Três Poderes.